terça-feira, maio 10, 2005

se....

E se eu trocasse o sol pela lua e a lua pelo sol. Seria dia quando agora é noite. E à noite seria tempo de luz que aquece mais no Verão. De dia teríamos a lua de Verão. Que aquece mais que o sol de Inverno. Esse que se escondia quando os lençóis nos cobrem. Se eu não te tocasse e me sentisses. Mesmo assim me sentisses. Se fossem os meus olhos a percorrer o teu corpo. E não cada uma das minhas mãos. Se te visse com os meus dedos. Despidos a percorrerem cada linha do teu corpo. Dirias que era a melhor coisa do mundo. E olhava-te em pontas de dedos. Sentia-te em cada traço da minha retina. Se te levasse ao outro lado do rio com as minhas asas. Se fôssemos pássaros que falam e sentem. Voava como um anjo ao teu lado. Meu anjo.
Em cada bater de asas cruzávamo-nos com os outros que por ali passam. As pontes afundavam-se. As estradas serviam para os rebanhos de pastores graúdos. De vara na mão, encaminham a lã que tece os fios que constroem as linhas que no céu encaminham os miúdos. De asas fracas pouca força têm para passar desta margem para a outra. E nós, seguros pelo nosso dia em que a lua nos cobre forçamos o vento que bate em sentido contrário até nos esgueirarmos na fissura do castelo e daí ver o nascer do sol. É noite.
Se o ódio que consome os velhacos que lá em baixo se escondem na cidade fosse o verdadeiro amor. Se o amor deles fosse de tal forma pervertido que, embebido em loucura, lhe chamassem amor. Então odiava. A ti e a todos. Porque é do sentimento sagrado que nasce a existência. Onde tudo começa e tudo acaba. E se o princípio fosse o fim. Se nascêssemos do último suspiro. Se a morte fosse um orgasmo. Se a sabedoria das rugas fosse a nascença. E todos morrêssemos com a ingenuidade de uma criança. Sem saber que acabou de nascer. Se o choro fosse riso. E se o riso fosse cada uma das lágrimas que o desespero já me verteu. Se o sal que deito por ti e por todos fosse o mar. Se chorássemos para o mar e dele nascesse a razão que a todos banha. Se o mar fosse o cimento. Se o cimento fosse um rio de estradas por onde andam rebanhos imaginários. E os pastores, velhos, fossem ilusões de uma vida paralela.
Se eu não existisse. Se tu existisses. Serias o mesmo. A mesma. Se eu estivesse ali, longe do vosso olhar, que seria de vós. De ti. Estaria de asas pregadas ao céu, como um anjo, num dia de estrelas, a olhar para pastores velhos que percorrem estradas de água, e beijava-te. Porque em todas as estrelas certamente havia um espelho e deles saía a tua imagem. Agarrava-me a ti. Aos outros. A todos. E se o mundo fosse assim? Simplesmente diferente. Será que seria o mesmo. Será que te odiava. Ou simplesmente te amava.
escrito por : Adão

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

ta lindo!!...
gostei tanto que "obriguei-me" a publicar...;) ...e sei de varias pessoas que o leram, gostaram..mas sentem se incapazes de comentar...."E se o mundo fosse assim? Simplesmente diferente. Será que seria o mesmo."....as vezes penso nisso...e as vezes, não sei a resposta...;) venham + desta qualidade...****obrigada "adao"

2:20 da tarde  

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