segunda-feira, fevereiro 27, 2006

as palavras que chamam por ti...

Gosto do ar confiante com que te apresentas.
Gosto que sejas extrovertida e serenamente determinada. Invejo a indiferença que te serve de escudo. E admiro o orgulho que nunca te deixa baixar a cabeça…
Mas gosto mais das coisas que guardas, das coisas que aos poucos me vais deixando descobrir em ti…
Gosto do teu jeitinho desprotegido quando ninguém está a ver…da forma como pedes carinho mesmo sem pedir… Ou do ar mais protector, que colocas quando me apoias, me acolhes, me afagas…
Gosto quando me ouves como se mais nada fosse importante. Gosto quando as minhas palavras te devolvem o sorriso. Gosto de comprovar que somos capazes de falar sobre tudo, que recolhemos do outro o que nos falta, que nos completamos…
Gosto que te sintas aconchegada no meu abraço, que te reconfortes nos meus beijos, que sintas a minha falta…
Atrai-me o teu olhar, o teu toque, as diversas maneiras que encontras para mostrar que me desejas…
Gosto quando me seduzes, quando me provocas, me dominas...
Mas também gosto de te ver vulnerável …fazes-me dizer coisas sem sentido…fazes-me pensar em ti…em nós… fazes-me sentir que o meu coração não parou…
(Será por isso que tenho saudades tuas?)
Gosto de te ver baixar as guardas, mas… Irrita-me, deliciosamente, perceber que me sabes levar…

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Há coisas que ficam em segredo...

Gostava de te amar…
…Mas é preferível evitar o amor.
Amar é esquecer as consequências de ter um coração, é nunca saber se damos ou recebemos… é estar rodeado de um tipo de inércia que permite tudo... Amar implica morrer.
Prefiro, por isso, perder-me, e não ter nada mais, senão um sitio onde voltar…
Prefiro não pensar. Prefiro sentir-te… Sem esperar seja o que for…
Mas fazes-me ver demais. Pensar demais. Viver demais. E continuar a pedir de menos.
Fazes-me sentir importante. Fazes-me bem. Fazes-me perguntas. Cativas-me! Queres saber coisas que eu não quero falar…
E é natural que me esconda. Quando lembro o passado. Quando lembro das vezes que matei e morri para continuar a viver. Quando lembro que cada vez que magoava a alma, fechava mais o coração…

Gostava de te amar…
…Mas hoje, o meu amor está guardado. O meu amor é segredo, senão dizia-te…
... Se não tivesse certeza que se to confessasse, te afastavas...
… Porque é isso que acontece…. Porque é assim que deve ser…

sábado, fevereiro 18, 2006

Como se ainda fosse a tempo...

Laura encontrava-o todos os dias no ginásio. E todos os dias o olhava com desejo, como quem persegue algo que nunca poderá ter…
Pedro escondia-se. Não queria dar-se a conhecer, com medo de se perder. Transmitia uma imagem fria, altiva, de quem sabe exactamente o que quer e gosta de jogar pelo seguro.
Para Pedro, Laura não era quem esperava…embora já não esperasse ninguém…
Mas Laura insistia. Julgava-se capaz de o cativar…
Alguns dias passaram até que chegassem a falar. Depois disso não conseguiram ficar sem se ver. Passavam mais de metade do dia juntos e aos poucos foram descobrindo os encantos um do outro… aquelas pequenas coisas que não são acessíveis a todos os olhares. Mesmo assim, disfarçavam perante os demais. E ao longe, sentiam-se, naquela cumplicidade de quem beija sem tocar os lábios.
… Havia vontade… havia o sublime terror de sentir as coisas fugirem do seu controle. E havia medo. Que apesar de tudo, não os deixava parar.
Laura gostava de o provocar, de o deixar louco de desejo e de o observar de perto… Gostava de falar das suas fantasias e de ansiar que o prazer voltasse a ser repetido…
Adormecia. Sonhava. Acordava de noite. Sentia…
Abria os olhos. Tentava continuar a sonhar. Desejava…
Pedro parecia ter esquecido que a aliança que Laura trazia no dedo o incomodava…Ás vezes lembrava-se das palavras dela: "percebi que gosto dele" e pensava em voltar atrás, mas a sedução confundia-lhe a razão, os pontos de vista… Em vez disso, lembrava-se que tinha um corpo e sentia-se vivo… deixando que as suas dúvidas se derretessem na boca dela.
Acordava. Pensava… Nela! Queria…
Não sabia o que lhe estava a acontecer. Enlouquecia…
E depois de tudo... Depois de pensarem nas hipóteses. Depois de imaginarem as coisas diferentes, continuavam ali… naquele jogo perigoso, que implica a morte de alguém e os transforma em monstros…
Pedro sabe que nunca a terá só para ele, mas só sofre quando pensa nisso. E então prefere não pensar. Ás vezes gostava de mudar o rumo das coisas… (Como se ainda fosse a tempo…)
Mas depois deixa-se levar…
Sabe que há infinitas maneiras de morrer…e ele prefere faze-lo…devagarinho!

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

O seu inimigo preferido...

Tomou o pequeno-almoço num café de esquina, ao lado das pessoas que aspiravam a comida junto ao balcão de pé. Uma torrada. Uma meia de leite. Comia para sobreviver. Não lhe sentia o sabor. À sua volta o ruído de sempre; as cadeiras a arrastar, as pessoas a falar alto, a máquina do café…
Fechou os olhos e trouxe à consciência todos os caminhos que percorreu e não a levaram onde queria. Lembrou-se de todos os homens que chegaram até ela. Os cansados, esquecidos das coisas simples da vida, que se apaixonavam não por ela, mas pelo seu sorriso…Os interessantes, que se escondiam por baixo de camadas de protecção…Os casados, que procuravam na sedução, um carinho, um afecto, um bocadinho de atenção…Os que conhece pelo sabor da ausência…distantes quer física quer psicologicamente…ou mesmo aqueles que embora estejam perto, estão longe… noutra terra, noutro país, noutro continente…
Diz quem a conhece que não foi feita para estas coisas do amor. Que tem olho para os problemáticos e que em dez homens, escolhe o único que não presta. E quando não escolhe são eles que a procuram. Mas Joana queria amar, mais do que sentir-se amada. E por isso, insistia. E por isso, acreditava. E por isso, depositava todas as suas esperanças no sentido das coisas e no valor das emoções.
Abriu os olhos, tentando libertar-se do peso bruto de tudo o que não sabe explicar. Mas não se esquecia de nada. Os gestos, os cheiros, os calores, as diversas formas de respirar, tocar, beijar… e sentiu de novo a vontade de se apaixonar a crepitar-lhe no corpo, enquanto alguém lhe gritava baixinho aos ouvidos “onde está o amor a que tens direito?”