Hoje queria escrever-te. Descrever-te…
Queria algo que te fizesse justiça. Algo que fosse digno de ti. Queria que te reconhecesses nas palavras a imprensa. Sentir-te mais próxima. Dar-te uma vida fora da vida, nos sujeitos e predicados despejados em linhas e linhas de elogios, de figuras de estilo, de artifícios de linguagem. E linhas, e linhas, e linhas, até que estivesses por completo envolvida no meu texto, Até que percebesses que te conheço. Até que eu percebesse que te conheço.
Queria fazer uma metáfora para ti. Dizer que como o principezinho de Exuperi, também eu me apaixonei por uma flor. Dizer que também a minha flor era linda. Mas que não era uma rosa vaidosa. Dizer que a minha flor era de uma beleza sublime, única, tranquila, de que nem ela própria se apercebe. O que faz com que seja ainda maior a sua beleza. Falar de como, forte, resististe ao Inverno com as suas tempestades e o seu frio. Contar como, frágil, perdeste pétalas quando te tentei colher para te ter só para mim.
Fazer-te versos. Mas não daqueles lamechas. Não dos que dizem “Amo-te com todas as minhas forças” nem nada que se pareça. Porque já o disse no passado, a outras que não tu. Não, para ti não diria isto. Não diria nada desse género. Para ti escolhia palavras incomuns. Faria um texto com múltiplos significados. E tu lerias aquilo que querias ler. E talvez lesses o mesmo que eu. E talvez me conheças. E talvez percebas o que penso. O que sinto.
Queria fazer tudo isto. Queria de uma vez por todas libertar-me, deixando-me aprisionar. Queria romper o véu que me sufoca. Queria cortar as amarras de seda que me prendem a mim mesmo, e só a mim. Queria abrir os olhos, e ver para além do que sou.
Hoje acho que não consigo. Conseguirei algum dia?
Hoje não consigo. E não tenho quem me auxilie. O meu agnosticismo impede-me de procurar ajuda divina. A única deusa que conheço és tu. E és uma deusa porque entre os mortais, marcas as vidas que tocas. Fazes a diferença. Caminhas a cada dia, a cada gesto, para a imortalidade.
Mas não me resigno. Até um mortal pode sonhar ser feliz. E hoje tinha ficado feliz se te tivesse escrito qualquer coisa. Tinha ficado aliviado. Dormia melhor. Mas em vez disso, fechei o caderno ainda vazio. Meti para dentro o bico da esferográfica de publicidade. Daí sozinho para a noite, sozinho no meio da multidão. Para ser mais um “deles”. Porque no nosso mundo há cada vez menos como tu. Porque descobri que fechando os olhos, imaginando com força, podemos viver em paz sendo o que não somos. E aí não precisamos de escrever.
Queria algo que te fizesse justiça. Algo que fosse digno de ti. Queria que te reconhecesses nas palavras a imprensa. Sentir-te mais próxima. Dar-te uma vida fora da vida, nos sujeitos e predicados despejados em linhas e linhas de elogios, de figuras de estilo, de artifícios de linguagem. E linhas, e linhas, e linhas, até que estivesses por completo envolvida no meu texto, Até que percebesses que te conheço. Até que eu percebesse que te conheço.
Queria fazer uma metáfora para ti. Dizer que como o principezinho de Exuperi, também eu me apaixonei por uma flor. Dizer que também a minha flor era linda. Mas que não era uma rosa vaidosa. Dizer que a minha flor era de uma beleza sublime, única, tranquila, de que nem ela própria se apercebe. O que faz com que seja ainda maior a sua beleza. Falar de como, forte, resististe ao Inverno com as suas tempestades e o seu frio. Contar como, frágil, perdeste pétalas quando te tentei colher para te ter só para mim.
Fazer-te versos. Mas não daqueles lamechas. Não dos que dizem “Amo-te com todas as minhas forças” nem nada que se pareça. Porque já o disse no passado, a outras que não tu. Não, para ti não diria isto. Não diria nada desse género. Para ti escolhia palavras incomuns. Faria um texto com múltiplos significados. E tu lerias aquilo que querias ler. E talvez lesses o mesmo que eu. E talvez me conheças. E talvez percebas o que penso. O que sinto.
Queria fazer tudo isto. Queria de uma vez por todas libertar-me, deixando-me aprisionar. Queria romper o véu que me sufoca. Queria cortar as amarras de seda que me prendem a mim mesmo, e só a mim. Queria abrir os olhos, e ver para além do que sou.
Hoje acho que não consigo. Conseguirei algum dia?
Hoje não consigo. E não tenho quem me auxilie. O meu agnosticismo impede-me de procurar ajuda divina. A única deusa que conheço és tu. E és uma deusa porque entre os mortais, marcas as vidas que tocas. Fazes a diferença. Caminhas a cada dia, a cada gesto, para a imortalidade.
Mas não me resigno. Até um mortal pode sonhar ser feliz. E hoje tinha ficado feliz se te tivesse escrito qualquer coisa. Tinha ficado aliviado. Dormia melhor. Mas em vez disso, fechei o caderno ainda vazio. Meti para dentro o bico da esferográfica de publicidade. Daí sozinho para a noite, sozinho no meio da multidão. Para ser mais um “deles”. Porque no nosso mundo há cada vez menos como tu. Porque descobri que fechando os olhos, imaginando com força, podemos viver em paz sendo o que não somos. E aí não precisamos de escrever.
1 Comments:
Reconheço muita coisa neste texto. E gosto!! Gosto muito!
Escolhes o silêncio do manto que vem com a noite. Escolhes esse espaço, onde tudo é mais real, mais igual ao que sentes....porque so te tens a ti...
As palavras largadas, os sons diversos, são segredos que tentam sair de ti. Porém, (para ela) não queres usar as mesmas palavras que se ouvem vezes sem conta...as mesmas palavras que para alguns ja perderam o sentido....mas queres dizer...simplesmente dizer... mas n consegues..."Hoje não consigo" e entao decides dormir.."Porque descobri que fechando os olhos, imaginando com força, podemos viver em paz sendo o que não somos"..nos sonhos podemos imaginar td como queremos..podemos ser pessoas difrentes, podemos dar importancia a outras coisas...mas q acontece qd acordamos?...
"Conseguirei algum dia?"...e eu pergunto...será que já n conseguiste?
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