Sonho Suspenso
“Não quero estes, gosto mais daqueles”, grita enquanto se recusa a calçar os tenis. Loiro, irrequieto, só acalmou quando Ana se baixou para o ajudar a calçar-se. Não admira. O seu jeito natural para lidar com crianças fez com que, desde cedo, sonhasse em seguir o curso de Educação de Infância. Curso, esse que não concluiu por questões financeiras.Foi então que optou por começar a trabalhar numa loja de desporto.
Com vinte e dois anos e um ar traquina, Ana supera todas as adversidades com sentido de humor. Após atender mais um cliente e dizer pela décima vez que os tenis da montra estão em promoção, desabafa que “ás vezes estudar parece mais fácil que trabalhar”.
É responsável pela parte têxtil da loja há quase quatro anos e afirma que hoje já não sabe muito bem qual a sua ambição, pois existe o medo de seguir o que realmente quer, “não ter sucesso, e perder o que hoje é seguro”. No entanto, o sonho continua presente, principalmente quando ouve a sua melhor amiga e colega de trabalho dizer: “É uma pena, porque ela tem de facto muito jeito”. Sandra, ao contrário de Ana, prefere resguardar-se no armazém da loja a colocar alarmes na roupa, enquanto ouve as conversas de soslaio.
Ana, por outro lado, sorri quando os clientes a procuram e confessa que “existem outras coisas que nos dão valor”, até porque acredita que “o que conta não é um curso, mas as portas que se abrem”. Pára de falar. Desdobra as camisolas do expositor, para as voltar a dobrar, disfarçando ao ver que a gerente se aproxima. Depois conta em surdina: “a minha chefe não tem habilitações literárias e subiu na vida”. Confidencia mesmo com um sorriso rasgado, que se pudesse, seguiria o exemplo de um senhor que conheceu, “que deixou de ser professor universitário para passar os dias sentado num banco de jardim a apanhar sol”. Mas a vida não lho permite. Em vez disso, levanta-se as sete da manhã e acomoda-se à luz artificial e ao calor do ar condicionado.
Diz que hoje, muitos jovens trocam o estudo pelo trabalho, sujeitando-se a qualquer coisa, por julgarem ser "a maneira mais fácil de viver e de resolver problemas económicos”. Mas para Ana, é apenas o adiar de um sonho.
Muitas vezes pensa em voltar a seguir a área que sempre a fascinou, até porque sabe que deixaria a família mais feliz. A mãe refere-se a ela como “a pequenina, franzina que facilmente cativa as crianças”. É por reconhecer essa facilidade inata da filha em comunicar com os mais pequenos que gostava que seguisse o curso, no entanto respeita as suas opções.
Ana, porém, prefere ir adiando a decisão de voltar a estudar pois julga que daqui a uns anos, com mais maturidade, aproveitaria melhor os ensinamentos.
Pára de falar mais uma vez. Afasta-se. As pessoas acotovelam-se enquanto tenta a todo o custo chegar ao armazém para atender mais um cliente. Mesmo assim, aproveita para descontrair, brincar com os colegas e dizer em voz alta, rindo: “"vejam lá se tem muitos filhos para eu daqui a uns anos ter emprego".
É responsável pela parte têxtil da loja há quase quatro anos e afirma que hoje já não sabe muito bem qual a sua ambição, pois existe o medo de seguir o que realmente quer, “não ter sucesso, e perder o que hoje é seguro”. No entanto, o sonho continua presente, principalmente quando ouve a sua melhor amiga e colega de trabalho dizer: “É uma pena, porque ela tem de facto muito jeito”. Sandra, ao contrário de Ana, prefere resguardar-se no armazém da loja a colocar alarmes na roupa, enquanto ouve as conversas de soslaio.
Ana, por outro lado, sorri quando os clientes a procuram e confessa que “existem outras coisas que nos dão valor”, até porque acredita que “o que conta não é um curso, mas as portas que se abrem”. Pára de falar. Desdobra as camisolas do expositor, para as voltar a dobrar, disfarçando ao ver que a gerente se aproxima. Depois conta em surdina: “a minha chefe não tem habilitações literárias e subiu na vida”. Confidencia mesmo com um sorriso rasgado, que se pudesse, seguiria o exemplo de um senhor que conheceu, “que deixou de ser professor universitário para passar os dias sentado num banco de jardim a apanhar sol”. Mas a vida não lho permite. Em vez disso, levanta-se as sete da manhã e acomoda-se à luz artificial e ao calor do ar condicionado.
Diz que hoje, muitos jovens trocam o estudo pelo trabalho, sujeitando-se a qualquer coisa, por julgarem ser "a maneira mais fácil de viver e de resolver problemas económicos”. Mas para Ana, é apenas o adiar de um sonho.
Muitas vezes pensa em voltar a seguir a área que sempre a fascinou, até porque sabe que deixaria a família mais feliz. A mãe refere-se a ela como “a pequenina, franzina que facilmente cativa as crianças”. É por reconhecer essa facilidade inata da filha em comunicar com os mais pequenos que gostava que seguisse o curso, no entanto respeita as suas opções.
Ana, porém, prefere ir adiando a decisão de voltar a estudar pois julga que daqui a uns anos, com mais maturidade, aproveitaria melhor os ensinamentos.
Pára de falar mais uma vez. Afasta-se. As pessoas acotovelam-se enquanto tenta a todo o custo chegar ao armazém para atender mais um cliente. Mesmo assim, aproveita para descontrair, brincar com os colegas e dizer em voz alta, rindo: “"vejam lá se tem muitos filhos para eu daqui a uns anos ter emprego".
1 Comments:
Conseguiste dar uma volta porreira à reportagem. Gostei, sinceramente. :) *
Cardoso
Enviar um comentário
<< Home