segunda-feira, abril 16, 2007

até à lua, ao infinito (...)

Para ti…
Sou lágrima transformada em oceanos de sorrisos.
Sou amanhecer de olhos semicerrados e esperança por entre raios de sol.
Sou segredo repleto de tolice. E esborrachar de bochechas com meiguice.
Sou mimo no pescoço… e o carinho de um sorriso maroto.
Sou o areal que se entranha nos teus pés, e se mistura na roupa…
Sou a estrela que se põe no mar…
Sou o rápido regresso a casa...
... a volta na chave do carro, o vidro que se deixa entreaberto, a estrada que te leva para onde te sentes seguro… (ligas os máximos para me veres melhor)
Sou o pensamento que se deita ao teu lado, o anoitecer junto à lareira a contar velhas histórias…
Sou a ideia de futuro.
Sou passeio na praia, de mãos dadas, em dias de pele enrugada...
... e laço que te faz sonhar com sonhos iguais aos meus…
Sou a descoberta há muito procurada…
... e verdade que nunca te deixa muito tempo sozinho…
Para mim...
És o sopro mágico da “manhã” alegre em que me descubro.
És vidro embaciado depois do banho e pegadas húmidas deixadas pelo quarto.
És ternura declarada em promessas matinais…
... e a música que toca no carro... (aumento o volume para que não adormeça enquanto me afagas os cabelos)
És brilho nos olhos, cócegas na barriga...
...e luz que teima em ficar acesa quando todas as outras já se apagaram...
És batida apressada no peito e silêncio exposto que me embala…
És conversa ensonada a meio da noite.
És os cobertores que me abraçam e a televisão que me faz companhia antes de adormecer.
És as vezes que ficaste ao computador, a escrever para mim. Cheio de coisas para fazer... mas nenhuma mais importante que esta.
És a minha existência em eixo inteiro e desmanchado…
... um mistério, aos poucos desvendado…
… e acima de tudo… a espera de uma resposta…


Entre nós…
A calma. A alegria serena…
O tempo … que ilude se é veloz, que engana se é tardio…
Mas acima de tudo a sintonia, a clareza de quem recolhe o generoso conforto do acaso e se deleita com o que aos poucos se engrandece, se purifica, se fortalece e embeleza…

Entre nós…
…as palavras… pensadas, sentidas… irreparáveis…
… as que dentro de nós e à nossa volta… não têm retorno.
Por isso és dono do meu sorriso e eu guardo o teu coração…



Nota: a descrever um sentimento bonito, que todos reconhecem... mas que por vezes se torna ausente...
(listening: three doors down-here by me / travis-closer)

sábado, abril 07, 2007

Tempo... parte III

- Foi nisso que pensaste quando te foste embora? Foi por pensares que podia morrer no dia seguinte que nunca deste noticias? Quantas vezes pensaste no amanha?
- Não penses que não fui sincera contigo.
- Sempre foste? Então podes dizer me qual é a tua relação com o Sílvio?
- O quê?
- Sim, Rita. Não adianta continuares a mentir. Admite!
- Não estou a perceber. Somos só amigos.
- Desde quando? Tinha a sensação que nem se conheciam.
- E não conhecemos. Falamos…
- E tu já dizes que o amas?
- Quem te disse isso?
- Tu! Foste tu que mo disseste mesmo sem saberes. Quando por curiosidade, ou medo, li a mensagem no teu telemóvel. Errei mas ainda bem que o fiz.
- Ainda bem?
- Sim, porque confirmei nunca ter errado ao pensar que afinal só eu é que amei…
- Nunca confiaste em mim…
- Ter medo de perder um amor não é desconfiança, é algo que nunca serás capaz de sentir…
- Não digas isso…
- Pensavas que eu não ia descobrir, não é? Enquanto eu andava à procura de algo a que me agarrar, que me fizesse acreditar em ti e te desculpar, andavas nesse teu jogo e dizias ao Sílvio que o amavas, e eu….eu sentia como é ser usado por alguém que pensa saber amar os outros, quando apenas se ama a si própria…
-Isso não é verdade… Se não acreditas em mim, não posso fazer nada…
- Não! Não tentes fazer com que me sinta mal e me arrependa, por mesmo depois de ter visto a mensagem ter acreditado...e por mesmo assim, ter pensado em desculpar-te. Diz-me Rita, o que te levou a afastar da primeira vez?
– Não sei…
– E da segunda? Da terceira? Ou até mesmo da quarta vez? Quantos mais Sílvios existiram!?
Miguel parou de falar. Sentiu que se expunha mais do que desejava. Rita olhava pensativa para o cigarro que morria na sua mão. Disse por fim:
- Achas que se não te amasse, tinha vivido contigo tudo o que vivemos?
- Será que vivemos? Ou foste tu a única a viver? A alimentar os teus caprichos, as tuas histórias, e a tentar que nunca se cruzassem?!
- Que historias?
– Não me tentes fazer de parvo. Que queres de mim afinal?
- Que me desculpes… que me aceites de volta…
- Nunca te aprisionei aqui. Se querias outra coisa, só tinhas de me dizer… Da maneira como agiste, só permitiste com que hoje não saiba mais em que acreditar…
Rita soluçava. Os seus olhos procuravam o olhar de Miguel desesperadamente. As suas mãos tremiam e todo o seu peito ardia.
- Estás enganado, eu tenho medo de te perder…
- Já te disse isto uma vez e volto a dizer-te novamente: Tu fizeste as tuas opções, segue o caminho que achares melhor…
- ….eu sei que me afastei… eu sei que te fiz mal, e sei que ainda me vou arrepender mais ... mas terei eu tempo para reparar um erro?? Poderei eu pedir desculpa, terei esse direito? E devo esperar que me perdoes?
- Não é a mim que me deves pedir desculpa, mas a ti... é a tua consciência que te julga....É ela que te vai fazer lembrar de quantas vezes brincaste com os sentimentos de alguém... E se algum dia fui o que disseste, se algum dia sentiste mesmo o que disseste sentir por mim, se foste sincera... então um dia vais conseguir pôr-te no meu lugar como sempre te pedi e irás perceber o quanto me magoaste… Quando esse dia chegar, diz-me…
Miguel fechou os olhos, aspirou o ar e concluiu:
-… diz-me se te conseguiste desculpar…

(fim)

segunda-feira, abril 02, 2007

Pedes-me tempo? Perdi-o. Tempo que me pergunta o que perco. Perco tempo numa resposta. A vida foi a enterrar há dias. E ainda me perguntas se há vida nestes dias. Morreste-nos. Se me perguntares o que me resta, que te posso responder? Restam-me todas as perguntas que não te fiz. Não tive tempo.

Se nesse tempo nunca o foste, não poderás ser parte de amor. Nasci para te ser. Ter. Te ter. Assim. Coração profundo agarrado às entranhas e ao resto. Cadáver perfurado de morte. De tempo. O antes e o depois passam indiferentes. Agora. O agora. És vida, morte ou, simplesmente nada. Perguntas-me ou sim ou não ou se tudo o que será um dia o que ainda não o é, se o for, se terá sido tudo, se terá sido tudo em vão. Coração profundo. Estranhas o vazio que há. Pedes-me tempo?

Facas afiadas matam a hipótese. E se? Não pode! E se for? Nunca! E se me embalares? Rasgo todas as linhas do antes e faço do depois o agora preso ao nosso corpo. Mato o "e se". E se o depois não o for? Não o será. Se me amares? Pergunta ao tempo. Ele te dirá. Será?

Braços ramos de árvores daqui ao infinito. Pele deserto lânguida suada amada. Palavras prosa harmoniosa correcta profunda. Dedos mãos quentes seda erótica. Meio-dia num oceano qualquer. Amor impossível possível ali. E pergunta-me o tempo. Acreditas? A vida foi a enterrar há dias. Aqui só há mar.

Obrigada Adão por este texto teu!