sábado, abril 07, 2007

Tempo... parte III

- Foi nisso que pensaste quando te foste embora? Foi por pensares que podia morrer no dia seguinte que nunca deste noticias? Quantas vezes pensaste no amanha?
- Não penses que não fui sincera contigo.
- Sempre foste? Então podes dizer me qual é a tua relação com o Sílvio?
- O quê?
- Sim, Rita. Não adianta continuares a mentir. Admite!
- Não estou a perceber. Somos só amigos.
- Desde quando? Tinha a sensação que nem se conheciam.
- E não conhecemos. Falamos…
- E tu já dizes que o amas?
- Quem te disse isso?
- Tu! Foste tu que mo disseste mesmo sem saberes. Quando por curiosidade, ou medo, li a mensagem no teu telemóvel. Errei mas ainda bem que o fiz.
- Ainda bem?
- Sim, porque confirmei nunca ter errado ao pensar que afinal só eu é que amei…
- Nunca confiaste em mim…
- Ter medo de perder um amor não é desconfiança, é algo que nunca serás capaz de sentir…
- Não digas isso…
- Pensavas que eu não ia descobrir, não é? Enquanto eu andava à procura de algo a que me agarrar, que me fizesse acreditar em ti e te desculpar, andavas nesse teu jogo e dizias ao Sílvio que o amavas, e eu….eu sentia como é ser usado por alguém que pensa saber amar os outros, quando apenas se ama a si própria…
-Isso não é verdade… Se não acreditas em mim, não posso fazer nada…
- Não! Não tentes fazer com que me sinta mal e me arrependa, por mesmo depois de ter visto a mensagem ter acreditado...e por mesmo assim, ter pensado em desculpar-te. Diz-me Rita, o que te levou a afastar da primeira vez?
– Não sei…
– E da segunda? Da terceira? Ou até mesmo da quarta vez? Quantos mais Sílvios existiram!?
Miguel parou de falar. Sentiu que se expunha mais do que desejava. Rita olhava pensativa para o cigarro que morria na sua mão. Disse por fim:
- Achas que se não te amasse, tinha vivido contigo tudo o que vivemos?
- Será que vivemos? Ou foste tu a única a viver? A alimentar os teus caprichos, as tuas histórias, e a tentar que nunca se cruzassem?!
- Que historias?
– Não me tentes fazer de parvo. Que queres de mim afinal?
- Que me desculpes… que me aceites de volta…
- Nunca te aprisionei aqui. Se querias outra coisa, só tinhas de me dizer… Da maneira como agiste, só permitiste com que hoje não saiba mais em que acreditar…
Rita soluçava. Os seus olhos procuravam o olhar de Miguel desesperadamente. As suas mãos tremiam e todo o seu peito ardia.
- Estás enganado, eu tenho medo de te perder…
- Já te disse isto uma vez e volto a dizer-te novamente: Tu fizeste as tuas opções, segue o caminho que achares melhor…
- ….eu sei que me afastei… eu sei que te fiz mal, e sei que ainda me vou arrepender mais ... mas terei eu tempo para reparar um erro?? Poderei eu pedir desculpa, terei esse direito? E devo esperar que me perdoes?
- Não é a mim que me deves pedir desculpa, mas a ti... é a tua consciência que te julga....É ela que te vai fazer lembrar de quantas vezes brincaste com os sentimentos de alguém... E se algum dia fui o que disseste, se algum dia sentiste mesmo o que disseste sentir por mim, se foste sincera... então um dia vais conseguir pôr-te no meu lugar como sempre te pedi e irás perceber o quanto me magoaste… Quando esse dia chegar, diz-me…
Miguel fechou os olhos, aspirou o ar e concluiu:
-… diz-me se te conseguiste desculpar…

(fim)

15 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Primeiro a ler, primeiro a comentar =D ... Muito bom ! Mas também, não se podia esperar outra coisa da autora ... Parabens ! Beijo

Martim ! M&M ; )

2:58 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

brilhante final! Triste historia de quando alguem que sabe o que quer se cruza com outro alguém tao perdido! *****joana

2:31 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

É preciso força para se ser como o Miguel. Esse homem "à moda antiga" n só sabia o que queria como estava sempre disposto a "lutar" por isso. Agora entendo que só não desculpa a Rita porque não aquenta mais. Quem não tem respeito, nao merece nada. Bom texto :)

2:35 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

É triste saber que há pessoas como a Rita. Não é maldosas (essas também as há) mas perdidas!!! Vejamos (acompanhando os tres epidodios e o que entendi deles): Rita convence o Miguel que o quer desmessuradamente, depois foge. Volta porque afinal cometeu um erro. Mas volta a fugir. Não percebo bem mas pela fala do Miguel exagerou nesta atitude (quarta vez para mim já é "brincar" demais)
Depois quando volta, para mais uma vez pedir desculpa, chora "baba e ranho", "nao sabe" explicar nada do que faz e ainda por cima quer colher de um lado mas está a semear noutro? Não consigo perceber estas cabeças...

E reforço, não sao maldosas, mas antes fossem... Porque com as maldosas não ha enganos, sabemos com o que contar, mas com as perdidas queremos sempre tentar ajudar, tentar perceber e acabamos por nos magoar o dobro.

E para eu estar a fazer esta avaliação toda de uma personagem, entao k8tye, é porque retrastaste muito bem certo tipo de pessoas, que infelizmente, eu tambem conheço.
Gente que quer tudo... e nunca estarão..completos!

Sou mais um "miguel" mas eu sou revoltado!!! Adorei, como podes perceber, mas sobretudo pela forma como conseguiste colocar por escrito o que eu já me esforcei para esquecer que vivi.

tas la!! beijinhos***

2:50 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Adoro o final!

DEpois de tudo o que ela lhe fez, ele respondeu bem. Até porque no fundo, somos a nossa propria busca! E quando magoamos alguém, mais tarde vamos sentir que erramos no percurso, ou seja, que nos magoamos a nós tambem! A Rita vai aprender, pode demorar algum tempo, mas um dia, ela vai acordar e vai perceber que a vida é muito mais...

No fundo entendo-a. Ela ainda não se encontrou e o mais perto do amor que conheceu foi com Miguel, por isso nao quer perder isso, mas baralha-se... poe os pés pelas mãos.. e deixa a vida passar-lhe ao lado!

mts ******** claudia

3:07 da tarde  
Blogger k8tye said...

Bem ainda aqui uns dias com a cabeça em papa (gripe) e a tentar acabar esta historia não foi facil, mas chegar aqui e ver estes comentarios faz-me perceber que valeu a pena ;)

Desde já agradeço a ajuda de: eramai e "x" (lol) para a conclusao deste texto. ajudas precisosas ;)

Martim... :)
Gostei muito da tua visita, gostei ainda mais que tivesses comentado. Fico sem jeito com elogios teus ... :S Obrigada! M&M ;)

joana: *** obrigada por nunca deixares de comentar!***

Sonia: falaste bem. Respeito! ;)

Filipe: entao qual é a diferença concreta entre pessoas maldosas e as pessoas perdidas? SE magoam à mesma...

Claudia: boa noticia me das quanto ao final ;) andei com duvidas sobre ele... Obrigada :)

beijinhos para todos ***

3:29 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Esperei para ler td ate ao fim. Gostei da historia. Muito parecida com um episodio que já vivi. E a personagem tem um dos meus nomes:) Parabens pela forma como escreves. E desculpa mais uma invasao ;)
Ana Rita

1:42 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

consegui desculpar-me *

7:48 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Sinceramente...que texto mais fraquinho...também pudera....com a escritora que és.... e depois ainda pedes ajuda ao "x"(ficou entregue a bicharada), que desgraça...o que vale é que a/o eramai ainda la consegui salvar a historia,se não...
Resumnido todo o texto é uma idiossincrasia da vida... :P lool

11:40 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

(Irá haver polémica?)

Tive a pensar por onde poderia pegar para começar, depois escrevi e reescrevi….e resolvi, hoje vai ser por aqui:

“eu sentia como é ser usado por alguém que pensa saber amar os outros, quando apenas se ama a si própria…”

Quantos de nós fomos fantoches, marionetas….usados…por pessoas fúteis, que nos iludem com doces palavras, por vezes alegando sentimentos que nos fazem acreditar que é possível….por mais vezes que tentemos prometer que não volta a acontecer, que não nós vamos deixar iludir, magoar…acabamos por repetir o mesmo erro... acreditar. Acreditar que desta vez será diferente….tornamo-nos “Migueis”, observando do barco que se afunda, os botes salva-vidas que nos fazem sinal para nos salvarmos…para nos desprendermos…

As palavras ditas, soltas e que se acabam por perder no vento como promessas vãs…

A falta de sinceridade…

As mentiras…

A crítica que faço à Rita, é a de não ter sido sincera da primeira vez…dizer ao Miguel o que pretende da relação, em vez de ir e vir ao sabor do mar….talvez assim se poupasse muito sofrimento… “Nunca te aprisionei aqui. Se querias outra coisa, só tinhas de me dizer…”
Enfim, hoje em dia tem-se a tendência de se ser assim, não se ser sincero, verdadeiro, usar…. ser frio, não demonstrar o que realmente se sente (e será que se sente?!) porque se não o fizermos, somos considerados/rotulados de pessoas “fáceis”, que segundo alguns “experts” da matéria, “dá mais pica assim, não mostrar que tas disponível e tratar a pessoa de quem (supostamente) gostas com indiferença”...(Estes “experts” devem ser licenciados na Independente, só pode...)


Em termos de conclusão, no fim, todos acabamos por nos sentir perdidos….como a Rita. Uns acabam por se tornar nas “Ritas” que usam…outro acabam por se tornar “Ritas” que se fecham nos seus mundos, fugindo, (denominadas por muitos como, as tais pessoas “fáceis”)...que desconfiam de qualquer pessoa que se tente aproximar… ou que quando abrem a janela do seu mundo a alguém (O mais giro é que acaba sempre por ser as outras “Ritas” as que usam), normalmente tendem a se tornarem nos “Migueis”... (ciclo vicioso este) …

E “tu”…. Sempre foste um “Miguel”?!

“Em tempos de mentira universal, dizer a verdade tornou-se num acto revolucionário”

Ps. “I've had enough of the world and it's people's mindless games…”

*

8:25 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Bem! Parece-me que colocas o pessoal todo a pensar nisto!
É verdade, quase todos nós já passamos por algo semelhante...
Eu já conheci a versão masculina da "Rita". Estive com ele alguns anos e mais tarde descobri que passaram por ele uma série de mulheres sem eu nunca perceber. Quando percebi, também por uma mensagem que li, acabei a perdoar... Mas um dia olhei para ele e disse: Basta!! E até hoje... Entretanto ele já tentou voltar... Mas a minha vida seguiu sem ele, e percebi que era muito melhor assim..
Por isso, que dizer desta história?
Escreveste-a muito bem... mas acredita que me "tocou" por me fazer lembrar algo tão mau do meu passado!
Não sei se a pessoa se perdou ou não pelo que fez, mas acredito que não devemos perdoar pessoas que brincam com os sentimentos dos outros, sem perceberem que um dia são elas que vão sair magoadas...
Enfim!!
Adorei!
espero que continues a escrever os teus maravilhosos textos que eu adoro ler!
Bom fim de semana!
Beijinhos

5:10 da tarde  
Blogger k8tye said...

Ana rita:

a ser invasão, é consentida....vem sempre que quiseres ;) e obrigada!!***

pulha: como e porquê? :P beijinhos

anonimo: " idiossincrasia" ??? LOL palavras caras para mostrar que sabes muito?? :P
"Enfim, hoje em dia tem-se a tendência de se ser assim, não se ser sincero" ... será medo?? Medo da frontalidade? Medo de não magoar, magoando ainda mais com o silencio?
por isso gosto da tua citaçao: “Em tempos de mentira universal, dizer a verdade tornou-se num acto revolucionário”
obrigada pelo inicio do debate :P
;) beijinhos

solitariaaaaaaaaaaaa :)))
porque fico tao contente quando passas aqui?? :) n sei explicar.
Obrigada!! Ja sabia que te ias identificar com a historia. Ainda bem que a descrevo bem, porque não foste a unica a passar por algo assim... beijinhos*

2:18 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

anonimo, gostei do ponto de vista que levantaste.
"não demonstrar o que realmente se sente (e será que se sente?!) porque se não o fizermos, somos considerados/rotulados de pessoas «fáceis»"
Parece que não existe amor, existe um jogo, cheio de manipulações, de onde se tira o maior partido sem nunca mostrar "as cartas".
E o que se leva quando se parte? Umas pequenas conquistas e nunca o completo sabor de dar e receber :S

2:23 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

É daquelas palavras caras que uso só para parecer que sei muito :P eheheheee...

8:54 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

texto lindo.. pelo k eu percebi é só um texto ms digno de uma linda história... kem sabe s real??
Parabens

10:21 da tarde  

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