sexta-feira, agosto 12, 2005

Please, crash into me...

A manhã ainda não se tinha cansado quando a memória fez questão de a acordar para mais um dia.
Abriu os olhos... Era uma estranha. Uma intrusa no seu próprio quarto... repleto de odores que se entranhavam nela...repleto de um cheiro impossivel de agarrar ou esquecer...
Levantou-se. Deixou-se levar pelo deambular dos seus pés descalços, agora feridos pela irregularidade do seu caminhar. Depois parou. Sentia a falta do abraço que nunca pediu, do beijo que nunca roubou, do carinho que nunca exigiu...
Relembrou o dia em que julgou ter percebido porque vivia, em que julgou ter chegado ao seu porto de abrigo... e ter-se encontrado...! Possuia uma crença tão forte... que julgou que não se enganava...
As suas costas deslizaram a parede fria e a sua cabeça encontrou repouso no seu colo. Tocava uma musica repetidamente. Agarrou no telemovel e escreveu algumas palavras, na tentativa de expressar o que lhe ia na alma. Sentia a falta do que nunca disse e dos gestos e dos sorrisos a que se poupou. Sentia a falta do que não viveu... do que podia ter sido...
Releu varias vezes o que tinha escrito... Tied to me tight, tie me up again. Tied up and twisted, The way I'd like to be... For you, for me, come crash into me... e enviou!
As suas mãos tapavam-lhe agora os olhos. Ela desfazia-se num choro compungido. Afinal a distancia não trazia o esquecimento, mas sim a saudade...
Sentia falta do que não deu conta de querer, senão quando não podia mais recuperar. Sentia falta de olhar para ele e ve-lo a devolver-lhe o reflexo da alegria.
...Sem ele, parecia que vivia noutro mundo. Sabia que ele iria sempre omitir a falta que sentiu dela, nas manhãs em que não acordou ao seu lado. Sabia que ele nunca iria falar das saudades que sente, dos tempos que não passou com ela...ou de todos os momentos que não partilharam... e por isso, sentia-se , de novo, fora do seu lugar.
Sabia que a sua semente não iria germinar no jardim dele, se ele não a regasse! Sabia que os seus pés não são capazes de criar raízes, apenas porque ela quer ficar ali... e sabia que tal como no primeiro dia era a crença que lhe ditava os dias e a movia...
Sabia que ele iria ser sempre o seu IDEAL, porém não sabia mais o que era suposto saber...e por isso, esperava e reunia-se de forças para conseguir insurgir...pois acima de tudo, sabia, que por mais que quisesse, a terra, tão cedo, não a iria engolir.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Para mim o texto mais difícil de comentar, nem sei porquê, que cometi o erro crasso de deixar para 4º (e último) lugar de todos os textos que comentei hoje... assim, e com desculpa antecipada, é certo que não vai sair nada de muito compreensível.

O acordar a pensar no que recorda, que tem saudades, e que não consegue voltar a ter faz com que se levante com falta do que nunca teve mas que queria ter tido. Gosto da imagem dos pés feridos por um andar irregular, como uma alma ferida pela falta de um amor à altura...
Custa perder um amor, mais ainda as ilusões de que esse amor era eterno, e por isso, por desespero ou esperança, sai a mensagem de telemóvel, o pedido, FICA COMIGO!
Não há distância que resolva, daí o choro que chega quando nos apercebemos que não é possível fugir.
Nos parágrafos seguintes nota-se a diferença entre ela e ela, entre a pessoa que sofre, e o que finge não sofrer.
Mais dois parágrafos a mostrar que ela sabe que "quando um não quer dois não bailam" (desculpa a tirada popular, mas não peças que seja erudito a estas horas), e isso lhe custa...
Gosto do parágrafo final, principalmente da certeza, que não se entrega, continua viva, contra o que vier!

ps: sei que me escaparam pormenores... desculpa por isso, merecias melhor!

3:41 da manhã  

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