sexta-feira, dezembro 30, 2005

Sinto a tua falta, amor...

Penso em ti tantas vezes...
Mas nunca te conheci...
Sinto a tua falta. Nunca te encontrei.
Mas sempre te procurei...
Tentei acreditar que te tinha cada vez que me sopravam aos ouvidos e me beijavam com palavras..mas, sem saber, guardei-te para mais tarde...para quando soubesse reconhecer-te.
Escolhi caminhos ao acaso, na tentativa de me convencer que não era por ti que caminhava. Queria um mundo sem ti, feito apenas de instantes e não de histórias bonitas. Queria livrar-me de mim e emergir revigorada. Deixei-me levar por armadilhas e enganos, por tudo o que me fizesse pensar que já te esquecera. Mas em vez disso, fui aos poucos sabendo onte te granjear.
Percebi que vives até na minha solidão, no silêncio de dias vazios. E que és a epiderme que me reveste, a densidade da água que me compõe, na qual eu me reencontro e reconstruo.
Mesmo assim, ainda te procuro. E enquanto espero...sinto a tua falta...

quarta-feira, dezembro 28, 2005

"Chêro intu"

Em tempos trazia sonhos e fantasias na palma da mão, que fugiam como areia por entre os dedos. Semicerrava os punhos e agarrava o tempo para não me perder. Depois conheci-te e o tempo voou. Vivia com inquietação, sugando cada minuto que antecedia a despedida. Até que ela chegou... o tempo parou... e não nos voltámos a ver.
Muitas vezes me sentei na parte mais triste do meu corpo e viajei para lá do oceano. Onde se ouve o samba.
Hoje perco-me nas deambulações do "eu" e mergulho nos fragmentos de mim.
Existe um "eu" que se engrandece sempre que a vida me prega destas partidas.
Feliz reencontro.
Sinto que existiu um tempo que parou... para mais tarde ganhar vida.
Hoje sei porque te guardei, porque te guardo...Hoje sei que sou aquilo que em mim tocou...
* "Ainda te lembro. E sorrio quando sorris."

à tordusca

Mais um dia, contado em segundos.
Em cada rua há mais alguém cansado dos dias que correm.
Em cada rua há mais alguém que fala do tempo. Da tarde que se faz tarde. Da noite que morre no poial da porta quando se decide deixar entrar mais um dia.
E há veneno por todo o lado.
Saio de mim e observo cada segundo que me pesa. Cada movimento que desconheço. Cada lugar esquecido. O mundo atulha-se de gente cheia... de solidão.
É de noite cá dentro. Acendo a luz. E bebo-a... a conta-gotas.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Parabéns !!!!

Este blog faz 1 ano.

Este mês torna-se assim um bocadinho mais especial. Para muitos é apenas mais um blog, para mim é um companheiro, um confidente, um sitio que me transporta para outras realidades.

Obrigada, do fundo do coração, aos que ainda depositam aqui um pouco das suas ideias, que perdem um pouco do seu tempo e que por isso, me mantém mais viva.... Obrigada mesmo!!

Obrigada também aos incansáveis que não deixam de comentar....(gostava que fossem mais, mas é como costumam dizer: "poucos, mas bons")...

Faltam-me as palavras para descrever o quão importante é (para mim) continuar a sonhar com os vossos textos e continuar a escrever, sabendo que passam os olhos por eles.... e por isso, sorrio...e só posso mesmo dizer ...obrigada por tudo!

... Um ano que passou a correr, um ano que me apazigua a alma por ser partilhado convosco.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

"Pega em ti e escreve parte do que és"


...Não!!
Ás vezes sinto que não vale a pena escrever. O que escrevemos e não mostramos, toda a gente quer ler, porém o que publicamos, ninguém comenta...

... Mas hoje não!
Hoje não me sinto capaz de escrever...!
Não consigo afundar-me nas coisas que me enchem a cabeça... nem tão pouco tenho disposição para me recriar... para me deixar levar nos mundos que se abrem à minha frente...
Apetece-me apenas a solidão, o silêncio sem memórias, sem planos, sem destino....
Quero que tudo fique guardado para mais tarde...porque de repente tudo deixou de fazer sentido...

Sento-me na mesa de madeira, revestida de fotografias e lembranças. Sinto-me, por momentos, como a folha de papel à minha frente...em branco!...

"(...) quando se chega ao limite de cada coisa, estamos sós. Sempre e irremediavelmente sós." (Miguel Sousa Tavares- Não te deixarei morrer, David Crockett)

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Hoje queria escrever-te. Descrever-te…
Queria algo que te fizesse justiça. Algo que fosse digno de ti. Queria que te reconhecesses nas palavras a imprensa. Sentir-te mais próxima. Dar-te uma vida fora da vida, nos sujeitos e predicados despejados em linhas e linhas de elogios, de figuras de estilo, de artifícios de linguagem. E linhas, e linhas, e linhas, até que estivesses por completo envolvida no meu texto, Até que percebesses que te conheço. Até que eu percebesse que te conheço.
Queria fazer uma metáfora para ti. Dizer que como o principezinho de Exuperi, também eu me apaixonei por uma flor. Dizer que também a minha flor era linda. Mas que não era uma rosa vaidosa. Dizer que a minha flor era de uma beleza sublime, única, tranquila, de que nem ela própria se apercebe. O que faz com que seja ainda maior a sua beleza. Falar de como, forte, resististe ao Inverno com as suas tempestades e o seu frio. Contar como, frágil, perdeste pétalas quando te tentei colher para te ter só para mim.
Fazer-te versos. Mas não daqueles lamechas. Não dos que dizem “Amo-te com todas as minhas forças” nem nada que se pareça. Porque já o disse no passado, a outras que não tu. Não, para ti não diria isto. Não diria nada desse género. Para ti escolhia palavras incomuns. Faria um texto com múltiplos significados. E tu lerias aquilo que querias ler. E talvez lesses o mesmo que eu. E talvez me conheças. E talvez percebas o que penso. O que sinto.
Queria fazer tudo isto. Queria de uma vez por todas libertar-me, deixando-me aprisionar. Queria romper o véu que me sufoca. Queria cortar as amarras de seda que me prendem a mim mesmo, e só a mim. Queria abrir os olhos, e ver para além do que sou.
Hoje acho que não consigo. Conseguirei algum dia?
Hoje não consigo. E não tenho quem me auxilie. O meu agnosticismo impede-me de procurar ajuda divina. A única deusa que conheço és tu. E és uma deusa porque entre os mortais, marcas as vidas que tocas. Fazes a diferença. Caminhas a cada dia, a cada gesto, para a imortalidade.
Mas não me resigno. Até um mortal pode sonhar ser feliz. E hoje tinha ficado feliz se te tivesse escrito qualquer coisa. Tinha ficado aliviado. Dormia melhor. Mas em vez disso, fechei o caderno ainda vazio. Meti para dentro o bico da esferográfica de publicidade. Daí sozinho para a noite, sozinho no meio da multidão. Para ser mais um “deles”. Porque no nosso mundo há cada vez menos como tu. Porque descobri que fechando os olhos, imaginando com força, podemos viver em paz sendo o que não somos. E aí não precisamos de escrever.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

À hora marcada (3)

-Bom dia Senhora Carolina. Sente-se por favor....Em relação aquele último jogo que fizemos...lembra-se?
- Sim, claro.
-Entao certamente que também será capaz de me explicar porque não respondeu com sinceridade ás perguntas que lhe foram feitas...
-Desculpe, não estou a perceber...
-Eu explico, Senhora Carolina...com todo o respeito, eu não a fui buscar a casa, foi a senhora que me procurou, portanto, não percebo o porquê das suas reacções perante as minhas pesquisas...contudo, devo reforçar que estes jogos pretendem conhecer melhor a pessoa, ou seja, as respostas ás imagens normalmente dizem qualquer coisa sobre a pessoa em questão, mas no seu caso isso não aconteceu...
-Eu peço imensa desculpa, mas voce pediu-me para dizer o que via...e eu limitei-me a faze-lo...se o jogo não correu como pretendia, quem devemos culpar?
-Eu não pretendo culpar ninguém...porém perceber como foi capaz de manipular este jogo...
-O Senhor Doutor não está a insinuar que eu tinha conhecimento destes seus metodos e quis influenciar o resultado, pois não?
-Não, Senhora Carolina... se tinha conhecimento do jogo ou não, não sei...o que digo, e com toda a certeza, é que...a senhora conseguiu distanciar-se e dar respostas que nada a identificam, ou melhor, que não explicam a causa da sua vinda aqui, embora evidenciem muito a sua personalidade.
-Como assim?
-Está claro para mim que a Senhora Carolina se apercebe facilmente do que está por detrás de uma simples brincadeira, falo deste jogo, como de qualquer outro, os frequentes ao longo da nossa vida...e para evitar situações embaraçosas, resguarda-se....
Carolina sorriu mordendo o lábio.
-Até lhe digo mais...não consigo explicar porque vê uma noiva, uma boia ou o fundo do mar...mas posso dizer-lhe que nada disso tem a ver consigo implicitamente...arrisco a dizer que podem estar relacionadas consigo...mas não se trata de algo que viveu.. gostava de ouvir da sua boca a explicação para para tudo isto...contudo, o que não percebo, é como conseguiu ludibriar-me!...
-Peço desculpa Senhor Doutor, não era minha intenção. De facto, a pessoa que me aconselhou os seus serviços, tinha razão...você não é igual aos outros...
-Agora sou eu que não estou a perceber...
-Eu explico...