sexta-feira, maio 11, 2007

Escrever


Perguntas-me porque não gosto de mostrar o que escrevo...
Eu respondo-te…

Escrever é doloroso...

Escrever é sentir que deixo de parte o que vivo. Que passo ao lado do que podia ter sido.
Que vivo de perto, mas nunca toco…Que sou humana mas fora do normal. Que sofro com o que os outros não percebem e amo coisas tão pequenas que os outros não vêem…

Que sou desadaptada, desajustada, inconformada…louca...

... porque a minha cabeça vive de fantasias, enquanto o meu corpo se queixa do peso de um mundo… imperfeito.

Escrever é olhar para as injustiças, para as promessas não cumpridas e aceitá-las… É suportar essa mágoa sem nunca enfraquecer…
É relatar cada “batalha perdida” e lembrar tudo o que não resultou... Todas as impossibilidades que se conheceu e toda a esperança que se perdeu.

É reunir todas as armaduras que se vão recolhendo pelo caminho e todas as lições que se aprendem com a idade…
É procurar alento nas palavras, reclamar expectativas futuras, cobiçar a felicidade… (já julgando não ser possível…)

Acima de tudo, escrever é ter medo de adormecer e nunca mais acordar…
É tentativa vã de prolongar o que queria que fosse para sempre…
É viver, sentir, imortalizar…
... E por isso, sentir-te perto. À distância de um abraço…
Olhar para dentro e encontrar em mim fragilidades que nem sabia que existiam. E, por alguns instantes, refugiar-me no silêncio, isolar-me, ausentar-me de mim… e sentir-me frágil.
Escrever é perceber que por vezes fujo sem nunca ter saído do mesmo sitio…

Mostrar o que escrevo é ter noção que não encontro o lugar onde estou… e que muitas vezes recuso o que sou…porque nunca expresso tudo o que o coração sente. Por muito que queira…por muito que tente…
Mostrar o que escrevo é reconhecer que crio histórias para perceber o que não sou capaz… para tentar distanciar a vida das palavras e não olhar mais para trás…
Mas é também confirmar que o que escrevo, sem querer, provoca dor e sofrimento. Mesmo aqueles de quem gosto muito.

É entristecer-me ao saber que te encontras nas minhas palavras, que as usas para te perceberes e que fazes delas as tuas próprias ideias… Que te envolves com elas e te apaixonas… sem nunca me deixares saber o que de facto sentes.

E dizes que gostas do que escrevo, mas afastas-te de mim… de mim, que sou muito mais do que escrevo…

11 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Gostei do texto! No fundo é doloroso porque mostrar é rever tudo isso... é relembrar o que/e quem se escreve... Talvez!:S
Mas é também doloroso porque as palavras ficam aquém da pessoa que "és" (se estiveres a falar de ti... lá está ...há sempre a duvida!!)
Mas se for de ti que falas... quem se apaixona pelas palavras, não faz ideia da pessoa maior que está por trás!És,de facto, um abrigo, um refugio... um lugar onde sabemos que nos podemos edificar... :)
Beijinhos ***

5:25 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Como se escrever fosse aos poucos arrancando um pouco da personagem... e no fundo ela pensa que se esconder o que escreve, podem ama-la por inteiro... Será?
Ou não serão as palavras uma forma de amá-la enquanto não chega a possibilidade de te-la?
Espero resposta ;)
*****joana

5:43 da manhã  
Blogger zorlac said...

Por vezes escrever não é apenas passar para o papel aquilo que pensamos...é uma reviver dos momentos que passámos, é uma auto-confissão onde abrimos mão do que mais nosso temos, os nossos sentimentos! É por isso que mtas vezes não entendem o que escrevemos, é por isso que nem sempre as coisas têm o mesmo significado nem são vividas da mesmamaneira...
Confessamo-nos aos outros na esperança de termos um feed-back, sem esperar que nos entendam ficamos contentes com algum reconhecimento pelo que escrevemos...eu pelo menos fico contente :)

2:30 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Gostei do texto porque te admiro... Eu não consigo escrever como tu, "traduzindo" à letra sentimentos e sensações que todos bem conhecemos. E quando tento escrever qualquer coisa nunca me agrada. Sei que escrever é mais que juntar palavras e por isso admiro-te! E ainda bem que mostras o que escreves, porque fazes pelo menos uma pessoa feliz... EU!
Beijinhos

3:16 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Já somos 2 ;) ***** claudia

3:17 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

k8tye quem se afasta de ti é porque nao tem amor à vida... tu és o sol, linda!
Eu continuo o que o Filipe começou... Tu és a que dá alegria e a que enche e engrandece com palavras, com gestos, com sorrisos, ou até apenas com um olhar ...
Não deixes de mostrar o que escreves... há quem nao podendo ter-te por completo, n passe um dia sem as tuas palavras...

3:38 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

eu sei o que te custa... Sempre que me lembro de estarmos na esplanada, de te ver tirar um bloco, comecares a escrever e te "desfazeres" num pranto, fico td arrepiada! Sim, não transmites tudo o que sentes, e mesmo assim achamos muito, mas digo que nao transmites, porque realmente es muito mais do que o que escreves e muito mais do que te julgam.

3:46 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

eu adorei o blog! Mais um texto muito bom!

3:48 da manhã  
Blogger Derfel said...

Escrever...
É alimentar sonhos,
É conceber.
É dar parte de nós...
É momento, loucura, dor, raiva, alegria...
É substituir lágrimas.
É criar cenários, mundos onde se pode tentar ser feliz.
É tentar dizer o que muitas vezes fica por dizer...
É esperar que as palavras dêem algum alento.
É exorcizar demónios...

No fim,
Sobre elas todos querem, sabem (ou não) opinar...
Mas nada interessa...
Elas estão ditas, escritas, deitadas ao vento...imortalizadas.
E no fim o que realmente resta saber é, afinal, será que existe alguém que compreende verdadeiramente o que foi escrito?
Que compreende a essência de cada frase, palavra, sílaba ou letra...

“Escrever é ter medo de adormecer e nunca mais acordar..”

1:40 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

A escrita consegue ser libertadora...como antes é dito num comentário...é (tentar) exorcizar demónios.
Acho que através da escrita conseguimos dizer tudo aquilo que muitas vezes não conseguimos dizer, desenhar aquelas palavras que por vezes ficam presas no nó da garganta...que guardamos...ideias que conseguimos depois dizer, expor no papel...

“porque nunca expresso tudo o que o coração sente. Por muito que queira…por muito que tente..” (até parece coisa minha)

Escrever é acto de coragem, de revolta....mostrar que não se concorda e tentar compreender o porque das coisas acontecerem como aconteceram...

Em jeito de conclusão....Se escrever o que nos vai dentro significa loucura desajustada...... Então sinto-me orgulhoso, somos loucos livres......a viver numa sociedade, ela sim (a meu ver) desajustada.

“porque a minha cabeça vive de fantasias, enquanto o meu corpo se queixa do peso de um mundo… imperfeito”

*

Ps. Continua a escrever....porque mais o mais triste é não poder ter as tuas palavras para ler, para envolver, embalar*

10:03 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

E apesar de tudo...ainda bem que escreves!
Como sempre as tuas palavras deixam-me a pensar.
É bom ler-te, mas também é mau saber que nem tudo está bem e que na maior parte das vezes que escrevemos é porque estamos tristes e tentamos apagar a dor com as palavras...
Talvez seja mais facil ser feliz num papel, numa história, num fragmento escrito numa hora em que todas as palavras que queriamos dizer a alguem tem de ser escritas porque essa pessoa simplesmente não nos ouve e também será melhor que não as leia...
Talvez na escrita aquele belo momento que deixou de existir, seja eterno...
Beijinho

10:02 da tarde  

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