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Não me deixas amar-te. Nem me queres por perto!-ele gritou.
Ana gostava de dormir com duas almofadas. Nesse dia,acordou com uma dor no pescoço. Para além disso, autodiagnosticou-se uma dor de cabeça de noite mal dormida. No seu sonho, um desconhecido lhe tinho dito que ela estava a ficar careca.Mal o seu pé tocou o chão, lembrou-se da discussão com o seu marido e de como tinha dormecido no sofá da sala.
Não reconhecia aquele sitio, onde vivia por instinto. Hoje via-o, porque já não conseguia viver. As malas estavam feitas. Saiu!
Nesse dia comprou o jornal. Não conseguia andar. Não sentia as pernas. Sentou-se no banco daquele jardim. O Central Park nunca lhe parecera tão vivo e verde. As pessoas não lhe eram estranhas. Ja as tinha visto, nos dias em que atravessava a rua. Hoje fitava-as, tentando sugar-lhes a vida.
Gostava de pensar em coisas impossiveis. Nesse dia desejou descobrir algo mais impossivel do que o que lhe tinha acontecido..para se confortar...! Esperou pelo minuto em que pudesse absorver os vermelhos e dourados do Plaza, sem que nenhum carro ali passasse. Queria levar consigo algo que a preenchesse. Nova Iorque tão cheia e ela vazia.
Abriu a porta do taxi. Relembrou a noite passada. Viu as marcas que ele lhe tinha deixado no braço, quando a tentou abraçar. Não queria ficar para não partilhar a sua dor, mas ele estava bem dentro dela. Olhou o resto do seu corpo. Todo ele eram marcas, nodoas negras que se reproduziam e a consumiam.
Queria fugir de algo que estava nela, com ela...! Quando não reconheceu o sitio onde vivia, saiu de casa, mas perdia-se sempre que pensava que não se reconhecia no seu corpo.
Entrou no taxi, convicta que o seu marido lera a carta do médico. Por esta hora ele ja sabia a verdade, mas não iria compreender. Para esta doença não há remédio...é o que dizem..!!O homem contava dinheiro com os olhos no colo:
-Para onde vai?
-Estou a morrer!