sexta-feira, setembro 30, 2005

Não sei...


Não sei quem és.
Não sei quem anseias ser.
Desconheço os teus sonhos e objectivos.
As tuas dores ou traumas...
Não sei os teus medos, mágoas, desilusões...
Não sei o que planeias, o que idealizas...ou o que preferes...
Ignoro se amas, odeias ou se tens paixões perdidas que te obrigas a esquecer...
De ti, só sei que existes e isso basta-me.

quarta-feira, setembro 28, 2005

Foi desde que partiste que...

... Percebi que podem não haver anjos no meu céu... nem heróis no meu castelo...
Podem não haver sonhos tornados realidade ou episódios perfeitos... mas existem sorrisos nos meus dias!

... Foi desde que partiste que.... arrumei a confusão que deixaste. Guardei o que abandonaste. Troquei a fechadura e fugi.

Foi desde que partiste que... descobri que não vale a pena afundar-me em tristeza e não olhar à minha volta...
Não vale a pena sufocar-me de gritos por expelir, se me olho ao espelho e gosto do que vejo...
Descobri que não vale a pena lutar mais contra o tempo, quando há coisas maiores que a vida...
E então desisti de lutar... com angustia e rancor nas palavras.
Desisti de tentar descrever-te em defeitos...
Percebi que não vale mais a pena! ...Porque és só mais uma pessoa que se cruzou no meu caminho... e como qualquer pessoa, entraste um dia na minha vida e modificaste-me para sempre...

Foi desde que partiste... que me atirei numa queda a pique no vazio da loucura e me deixei presa por uma corda, que não sei quantos metros tem... e aí continuo à espera... do dom para proteger tudo aquilo que gosto... e me faz sentir bem....

terça-feira, setembro 27, 2005

Apeteces-me

Falavas das férias e dos projectos futuros. Eu ouvia-te com atenção...mas a minha cabeça vagueava em desejos...
Hoje apetecia-me dar-te todas as alegrias que te falei. Apetecia-me receber todos os abraços que semeei. Apetecia-me dizer-te, sem pudor, que estarei desnuda à tua espera. Ausente de máscaras e perfumes, acessórios ou trapos.
Hoje apetecia-me mostrar que não sou fria como a porcelana que me envolve. Fechar os olhos e beijar-te, sem pensar nas marcas que podem ficar, para lá dos lábios.
Hoje, apetecia-me que me provocasses. Que fizesses tudo para que me sentisse viva por dentro. Podia ser marcada, vincada, usada ou ferida, mas apetecia-me ser sentida... e sentir-te.
Depois levantaste-te. Ausentaste-te por uns minutos.
Eu, rasguei um pouco da minha saia. E ali escrevi os sussurros do meu corpo. Pedaço de pano, que outrora fora parte de um prazer de ambos, servia agora de papel.
Coloquei-o, disfarçadamente, ao lado das tuas chaves de casa....e ansiei que voltasses.
Sentaste-te a meu lado e leste o bilhete que te deixei. Sorriste. Seguraste a minha mão e saimos juntos dali.
"Apeteces-me! Hoje serei tua...se me quiseres."

sábado, setembro 24, 2005

Nunca tinha gostado de usar palavras de outros.
Desde pequenina isso acontecia... enquanto as suas amigas se entretiam a mandar mensagens às suas "paixonetas de banco de escola", com palavras como "Para saberes o que gosto de ti, multiplica as estrelas no céu pelas gotas no oceano", ela mantinha-se assim, diferente das outras, porque sentia que para dizer algo, tinha que ser "especial".
Sentia que ao repetir palavras que não eram dela, estava a trocar o verdadeiro significado ao amor... muitos amam, muitas vezes com a mesma intensidade, mas cada amor, se verdadeiro, deve ser diferente...
Percebeu-o ainda menina, na altura em que o amor era escrito em papelinhos com "Gostas de mim?" e as opções SIM, NÃO e TALVEZ.
Com o passar dos anos manteve-se assim, diferente do resto das pessoas, notada por isso mesmo...
Se perdida na multidão pareceria "só mais uma", uma aproximação mostrava que era bem mais que isso!
Só que não encontrava quem, para ela, fosse como ela era para os outros...
E assim foi ficando, esquecida por escolha própria.
Mas um dia apareceu o príncipe, alguém a quem valia a pena dizer o que sentia...
Chamou a si todos os sentimentos, para escrever um texto. Tinha que ser único, lindo, perfeito, para mostrar que aquilo que ela sentia era assim também...
Mas as palavras não lhe vieram, o facto de querer ser diferente fez com que se afastasse do essencial, e impediu-a de impedir que ele se fosse...
"Amo-te! Fica comigo!" tinha resolvido tudo...
Mas ela não o disse, e o príncipe cavalgou para longe.

quinta-feira, setembro 22, 2005

um sonho


Ouvem-se sussurros e correrias nos corredores. Ele já está vestido. Sentado. Aguardando a sua vez de entrar. À sua frente, um espelho enorme mostra outra cara. Não sente os nervos, mas também não está calmo. Não tem superstições, apenas hábitos. Morde o lábio. Entrelaça os dedos e fita-se.
- Eu não sou eu. Sou ele. E ele sou eu!
Chamam por ele. É a sua vez... O seu momento... A sua cena.
Pouco depois regressa ao camarim.
Triste!
O pano caiu. O artista deixou parte de si. Como se de uma mutação se tratasse, como se não fosse humano. Dá de si o que tem e não tem... mas entrega. Retira de si o seu brilho para ver sorrir os outros. Mas os seus sonhos… esses, são tapados com mascaras e pinturas …são ofuscados pelas luzes do palco e por aquele degradante espelho.
Volta a morder o lábio, a entrelaçar os dedos e a fitar-se.
- Existem dias em que o palhaço sorri mas também é triste; onde o trapezista se equilibra mas quer cair; o músico toca e desafina; o bailarino dança sem se mover; o actor grita… calado.
É tarde para não continuar. Troca de roupa e volta a convencer-se:
-Eu não sou eu. Sou ele. E ele sou eu!
Depois apruma-se, prepara uma nova entrada.
O pano sobe… é hora... de viver um sonho.

terça-feira, setembro 20, 2005

" Era uma vez..."

Perdi a conta de quantas vezes ouvi esta expressão… Assim como perdi a conta dos dias em que imaginei que à minha espera estaria sempre um príncipe encantado e que a minha vida se tornaria num conto de fadas…
A realidade não é bem assim…
Cada pessoa que se aproxima e nos toca a alma com palavras traz consigo sonhos escondidos, carinhos precisos e desejos guardados... que nos fazem criar expectativas... Idealizar...
Vem sempre à memória as estórias de infância, as fantasias criadas, o mundo que queríamos para nós...a crença que "desta vez é que é"...
Cada pessoa que chega até nós vem como forma de pequena utopia...que nem sempre vemos como verdadeiramente é, mas sim como gostávamos que fosse...
...porque nos relembra alegria, porque nos faz ser, de novo, ingénuos...crianças...porque nos faz esquecer que existe o reverso da medalha... ou simplesmente porque nos faz acreditar numa nova hipotese de ser feliz...
... A verdade é que cometemos sempre os mesmos erros. Acreditamos demais... Sonhamos demais...
...A verdade é que mesmo conscientes, não deixamos de sonhar!
...A verdade, acima de tudo, é que os príncipes encantados são para as princesas e tudo termina com um final feliz…

domingo, setembro 18, 2005

Ninguém disse..

Ninguém disse que era fácil esquecer dias. Na verdade, ninguém diz o que interessa saber.
Ninguém me avisou que o tempo ia passar por ti bem devagar e que o beijo dela iria despedaçar-te o peito.
Ninguém me disse que irias passar a gostar de vinho e que só irias tocar guitarra, enquanto a mão dela segurasse a tua. Ninguém me disse que a cama por fazer, ao final da tarde, só tinha sentido porque foi desarrumada por ela.
Ninguém me disse que ela te iria trair. Mas também ninguém me disse que irias perdoa-la. Ninguém me disse que por lhe teres dado uns beijos, irias querer passar as noites todas com ela..mas podiam ter dito que irias ficar egoista, frio...de coração fechado...e que apesar de tudo, irias ter saudades...dela!

Um triste acordar.

Acordou com o barulho do vizinho no andar de cima. A noite de ontem ainda lhe pairava nos pensamentos. Mais uma vez tinha bebido demais, fumado demais, tentado demais divertir-se, viver a vida, como se isso fosse uma obrigação, como se isso fosse a única finalidade, como se apenas lhe bastasse isso.
Ao seu lado, o corpo despido dela ainda ali estava. Ainda se lembra do copo que lhe pagou na discoteca, de meter conversa com ela, de dançar um pouco, contar umas piadas, perguntar-lhe se não queria ir para "um sítio mais calmo". Tudo aconteceu rápido, como normalmente acontece.
Agora, recorda-se como se apanhou a ele mesmo em flagrante a olhar para o decote dela, de como imaginou como seria debaixo daquelas calças justas que deixavam imaginar um fio dental. Linda, era isso que ela era. O corpo firme, as curvas suaves, os olhos doces, o cabelo aloirado e encaracolado a cair em franja fizeram com que ele a desejasse. Ainda se recorda da cara de prazer que ela fez, e de a ouvir sussurar "Nunca niguém me excitou como tu!" e pedir "Mais! Não pares!". Tudo foi perfeito... ontem! Hoje cansava-o. Dava-lhe náuseas. Impedia-o de respirar!
Sacudiu a cabeça como que a afastar qualquer pensamento e levantou-se, tentando não a acordar, apenas porque não lhe apetecia falar com ela. Apanhou os boxers do chão e dirigiu-se à varanda do quarto. Precisava sair dali.
Espreitou para baixo, deixando o olhar atravessar os 12 andares que o afastavam das ruas da cidade, onde àquela hora tudo andava na corrida do costume. Sempre lhe fez impressão como podiam as pessoas viver tão sozinhas quando partilhavam o mesmo espaço, a mesma rotina, todos os dias.
Ele sempre se sentiu assim também, toda a vida, com pequenos intervalos que acabavam rápido, deixando-o ainda mais só. Mas também, sempre se recusou a ser mais uma "formiga no carreiro". Desprezava a vida convencional, a rotina, o trabalho "das 9 às 17", as relações que se mantinham por hábito mais do que por sentimento. E era também por isso que se sentia mais só, porque pura e simplesmente havia cada vez menos lugar no mundo para pessoas como ele.
Algo se movia no meio do fumo dos carros, num vôo descompassado e incerto, vindo na sua direcção. Entre o cinzento da poluição, dos outdoors na estrada, das pessoas, e de tudo o resto, algo colorido se distinguia. Cores vivas. Verde. Vermelho. Amarelo. Laranja. Cores vivas! Vida! E era na sua direcção que vinha, trazida pelo vento, voando nele. Frágil, deixava-se arrastar para a esquerda, para a direita, mas subia sempre, para ele.
Esticou-se para agarrar aquilo que lhe parecia uma borboleta. Não das da cidade, feias. Lembrava as borboletas dos tempos em que ia visitar os avós, aquelas que se misturavam com as flores. Mas não, era apenas um bocado de um prospecto, daqueles que dão à saída do metro. Na cidade, pelo menos na cidade em que vive, não há lugar para a beleza.
O "Olá, estás bom?" fê-lo despertar para a realidade.
- Olá...
- Gostei muito da noite de ontem, e algo me diz que o dia ainda vai ser melhor!
- Sim, também adorei. E não ficou por ali. Ontem foi só o começo. Acho que muitas coisas boas vão ainda acontecer... - mentiu...

sexta-feira, setembro 16, 2005

ELOGIO AO AMOR

"Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática.Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado.Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios.Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam"praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas,farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia,são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem,tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides,borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, apausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode.Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.
O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A"vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Temtanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe,não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser.
O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida,quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."


Miguel Esteves Cardoso in Expresso

quinta-feira, setembro 15, 2005

Feed me Lies!

Diz-me que o sol não brilha e a noite não é escura,
nem a neve fria nem a areia quente numa tarde de Verão.
Diz-me que a Terra (como a Vida, afinal), não gira
e que tudo o que muda são ilusões.
Diz-me que um homem, O Homem não avança
porque não tenta,
nem pode,
avançar!
Diz-me que quando uma criança nasce
sabe à partida que um dia chegará a sua hora
de não ser eterna!
Diz-me que não existe Amor.
O Amor!
é apenas uma conjugação de hormonas
que nos faz perder a calma.
Diz-me que estou (estamos todos)
condenados a caminhar sozinhos
por um caminho difícil
com destino incerto,
sem chegada possível.
Diz-me que ninguém, nunca, ajudará outro alguém
só pelo prazer de ajudar.
Diz-me que aceleramos todos o passo
para sempre
sem sequer olhar para trás,
com medo do passado.
O Passado. Ah, o Passado!
Diz-me que temos que o apagar para conseguirmos viver o futuro!
(com letra pequena, porque ainda é pequeno também)
Diz-me que os erros cometidos uma vez nunca mais se repetem,
porque eu não tenho medo de arriscar,
e preciso que me digam que vou falhar!
Diz-me que o próximo falhanço é fatal!
Diz-me (e agora é PARA MIM que falas)
que os meus 20 (quase 21) anos
são já idade demais para saltar de um penhasco,
mesmo que eu queira
e que não tenha medo,
porque talvez um avião me apanhe no caminho.
E se não apanhar,
se não apanhar,
pelo menos enquanto estava a cair senti a adrenalina!
Diz-me que ninguém se importa,
e então talvez não me deva importar com ninguém.
Diz-me que não vale a pena ser justo,
bondoso,
crente,
corajoso,
sensível,
confiante,
e todas essas coisas que me ensinaram a ser.
Porque os "bons meninos" são assim...
Olha-me nos olhos e diz que o verde se apagou,
que agora são negros,
a ausência de cor,
a ausência de vida
e esperança.
Diz-me que o que vejo através do fumo
enquanto acendo mais um narguilé
são apenas ilusões,
fruto da minha mente,
e do fumo (ele mesmo, que às vezes torna tudo mais claro).
Diz-me que sou igual a toda a gente.
Igual não...
pior.
Diz-me que os barcos passam longe (amiga M., esta metáfora é tua).
Tão longe que não os vejo.
Quanto mais tentar embarcar neles.
Que não posso ser tripulante
nem passageiro.
NUNCA capitão.
Mente-me
uma vez e outra vez.
E quando me vires em baixo,
de olhar perdido no chão
já sem lágrimas para cairem,
mente-me mais um pouco.
Alimenta-me de mentiras,
ou "Feed me Lies" se quiseres ser original.
Alimenta-me sempre.
Quero um "supersize" para levar,
por favor!
"Quod me nutrit me destruit"
E eu quero que me destruas!
Quero que me deites fogo.
Quero arder em chamas, e tornar-me cinzas,
e para isso tenho demasiada fome,
estou demasiadamente magro,
e frágil.
Arder!
Purificar!
E depois renascer,
como uma fénix,
como a MINHA fénix,
(e é esse o seu significado, finalmente),
para uma vida em que as mentiras não me atingem
porque vôo mais alto,
ou mais rápido,
ou mais longe.
Mais uma vez (ainda) não sei.
E aí, meu amigo,
meu velho amigo
(porque os amigos também mentem),
dir-te-ei
que não batas mais
no peito,
não como bates agora,
porque voltei a tomar o comando
e só vais ser usado para coisas boas!
Nota do autor: Esta é uma "segunda edição" de um texto originalmente colocado no meu space no msn dia 5 de Julho. É de facto uma "infertilidade criativa" repetir posts, mas este teve que ser. O "Feed me Lies!" continua a ser o menino dos meus olhos, talvez a melhor coisa que escrevi em toda a vida (pelo menos é a minha opinião). Foi escrito todo de seguida, sem pensar, sem reler, como eu gosto. Não vou alongar-me nem explicar o que queria dizer quando o escrevi, mas achei que este post (e só este) merecia uma pequena nota. Meu rico "Feed me Lies!", és o post a que eu não mudava nada (talvez o único), e sobrevives facilmente ao meu sadismo auto-crítico!
Gosto muito de ti, postzinho lindo! Quem é o postzinho lindo do papá, quem é?...
... preciso de sair e começar a conhecer pessoas...

terça-feira, setembro 13, 2005

Hoje decidi que mais vale não ser EU.
Apercebi-me que ser um livro aberto, ou uma janela escancarada é talvez a pior característica que tenho.
Notei que cada vez mais é preferível não deixar ninguém espreitar-me, quanto mais ver-me. Mas ver-me a sério, como sou, não apenas aquilo que transpareço.
Já me deixei ver no passado, bem recente até, mas a verdade é que pouco de bom me trouxe, porque quem viu não percebeu, porque lhe faltou ser como eu. Quem pode ver nem sequer espreita, porque é mais fácil estar focalizado em si mesmo.
É por isso que decidi que hoje me fecho. É por isso que os meus olhos se reviraram para mim. Deixei de tentar compreender os outros, de pensar "é igual a mim".
Ninguém é igual a ninguém. Muito menos a mim.
"Se não os podes vencer, junta-te a eles". E é isso que quero agora, pelo menos até que me convençam a mudar... vou ser mais um a viver a vida numa toada morna... com medo de dar um passo.
Talvez nunca me magoe. Por certo nunca magoarei ninguém. Mas sinto-me um fraco, porque contentar-me com o que tenho, sabendo que posso ter muito mais, é cobardia, é desistir! E eu nunca desisti...

... até hoje!

Gaiola de vidro

"Como paredes
através das quais o mundo vemos pelo ser dos outros
quem vamos conhecendo nos rodeia
multiplicando as faces da gaiola
de que se tece em volta a nossa vida.
No espaço dentro (mas que não depende do número de faces ou distância entre elas)
nós somos quem somos: só distintos de cada um dos outros,
para quem apenas somos a face em muitas,
pelo que em nós se torna, além do espaço,
uma visão de espelhos transparentes.

Mas o que nos distingue não existe"


(Jorge de Sena)

Insónias

Mais uma noite...
Preparei tudo para que desta vez ele viesse a tempo de o agarrar...
Fechei as persianas. Apaguei as luzes. Desliguei a televisão... Silêncio. Fechei os olhos e obriguei-me a dormir… Mas o sono resolveu mesmo abandonar-me…
Abri os olhos e a escuridão do quarto invadiu-me a alma… Voltei a fechar os olhos e pensei…
Em tudo…Nas pessoas que entraram... e saíram da minha vida… Nas decisões que tenho tomado… Na frieza que se tem apoderado de mim... Na impotência que senti perante tantas situações… Nas tristezas que me invadiram... Nas lições que muitos me deram mesmo sem querer... Nos elogios que teceram à minha pessoa e não soube como reagir... Nas palavras que me disseram... Nas que têm vindo a dizer...
"acho que já não percebo o que escreves"...
Tomara eu perceber. Perceber-me... Pudesse eu gritar bem alto tudo o que tenho cá dentro... mas não posso… As minhas palavras perderam a força... e os meus sentimentos estão tão bem guardados...que não os encontro...
… Sinto que estou a virar-me demais para dentro de mim… Estou diferente… mais indiferente… … Aparentemente mais leve... e a crescer...
O silêncio impera… O sono não chega...
É só uma fase... Qualquer dia vou acordar noutro lugar....

segunda-feira, setembro 12, 2005

"Quando os muros não deixam ver onde nasce o mar"...

Abri a janela. O dia estava triste....
Sentei-me no vão da janela e juntei-me ao céu cerrado de nuvens. Em silêncio naveguei pelos mares da minha memória. Chorava e sorria.
O telemóvel tocou quando menos esperava...
Atendi a medo. Reconheci a voz. Animei-me com o convite e aceitei como se não houvesse nada mais a fazer senão dizer que sim..
Nesse mesmo final de tarde, levou-me à praia. Toda eu era gargalhadas incontidas e sorrisos empolgados. Estava feliz. Cada grão de areia invadia-me com uma sensação de leveza. Fechei os olhos, abri os braços e respirei fundo. Quando voltei a mim, ele estava sentado a olhar a criança que me tornei...
Enchi-o de areia, porque não queria. Mas ria também. Depois descalçei-me e fugi para perto da agua. Arregaçei os jeans, corri, saltei e deixei que as ondas me libertassem e evitassem todos os pensamentos que temia...
Ria-me muito....
Olhei-o… Ele sorria, enquanto caminhava na minha direcçao…Soube-me bem.
Fiquei quieta. Envergonhada. Olhando timidamente por ter sido descoberta.
Aproximou-se. Passou a sua mão pelos meus cabelos e desafiou-me num passeio à beira-mar...
Lado a lado, fomos metendo a conversa em dia...e esquecemos as horas.
Ameaçava escurecer quando decidimos regressar. No carro, interrompi o conhecido silêncio incómodo que nos fazia companhia, ao trautear uma musica que bailava na minha cabeça " É que hoje mais que qualquer outra noite /Há qualquer coisa que me fere/Que me faz querer tanto ter-te aqui/Não importa se às vezes tudo é breve como um sopro/Não importa se for uma gota só/De loucura que faça oscilar o teu mundo/E desfaça a fronteira entre a lua e o sol"
Ele ria-se muito e eu mais uma vez desejei ser sugada, desta vez pelo banco do passageiro.
A conversa seguiu-se. Estava tão animada que nem dei conta do carro parar. Depois, calei-me...
Ele envolveu-me no seu abraço.
O espaço ficou mais pequeno e o tempo parou por momentos...
Cometi a loucura... de me deixar levar. Rejeitando qualquer mágoa, qualquer ressentimento, consequência ou pensamento...
No dia seguinte, uma luz rasgou a manhã e o quarto amanheceu com roupas espalhadas pelo chão e dois corpos enrolados que se tentavam mexer com movimentos lentos e leves de sono...
Eu escondia a cara debaixo da almofada. Ele tentava descobrir-me o rosto para me sussurrar qualquer coisa ao ouvido. Eu mantinha a almofada nos olhos.
- Porque tapas o olhar quando te digo que te quero?
- Não tapo o olhar. Protejo a alma.
- Mas... porquê?
- Para não ma roubares!
- Porque achas que ta vou roubar?
- Porque no dia em que deixei o peito a descoberto, tu conseguiste levar-me o coração

sábado, setembro 10, 2005

Um sorriso para amar. É, simplesmente, o que te dou. Ama. Em silêncio. Em palavras.
Vou ao fundo de mim e trago-te o que sou. Um vazio de de lembranças amargas. Olha. Ama.
E esquece a cegueira de quem não te ama. És miragem para muitos. Ou um sonho que voou. Para mim. És simplesmente um sorriso. Esse que te retribuo. Em silêncio. Amor. É tudo o que te dou.
by: Adão

conversa de meia noite....

Hoje percorri a cidade com outros olhos...
Revi lugares esquecidos onde em tempos alguém foi feliz. Onde alguém viveu achando que tinha tudo....e que os quilómetros que percorria eram o Mundo.

Há pessoas que são felizes com pouco… tão mais felizes que nós… os que exigem… ou que querem sempre mais para si. Os que têm objectivos maiores do que viver cada dia com o que lhes é oferecido. Os que não se contentam..

Depois de algum tempo, parei. Ela sentou-se a meu lado e perguntou:
-Achas que as pessoas são felizes....ou julgam que são felizes?
-Tenho a minha teoria...mas não quero influenciar o que quer que seja que anda nessa cabeça...o que sei, de facto, é que hoje vivo querendo sempre mais...
-Isso quer dizer que não nos conhecemos bem e por isso não sabemos o que queremos?
-Não creio....Isso quer dizer que o ser humano é um eterno insatisfeito... e que hoje o que o faz feliz, não é o que o fará feliz amanhã...faltará sempre qualquer coisa, que insistentemente procuramos...não sabemos se vamos encontrar...(muitas vezes nem sabemos o que procuramos)mas é a esperança que alicia a procura e a procura que alimenta o nosso conhecimento interior...senão como é que saberiamos o que queremos ou que é melhor para nós? Como é que hoje saberia se estou melhor que ontem?
- Pois!..
- Isso é um tema muito complexo... o ser humano é um mundo...e viaja dentro de si inumeras vezes à procura de si mesmo. Somos mutáveis e por isso tão complicados. Eu sei que não me limito a acordar e deixar-me assim ficar, com o que me é posto na frente. Quero ver o que há para alem de campos, mares, ruas…e sinto que não sou a única. E tu? Que pensas disso?

terça-feira, setembro 06, 2005

Tenho saudades de quando, em miúdo, ligava para a casa da minha primeira namorada. Timidamente, dizia que era um amigo. Do outro lado, a mãe ria-se e percebia que a amizade da infância tinha outra face na adolescência. E ouvia as palavras contidas, mas bem educadas, a dizer: “é para ti, um amigo”. Discar o número e não se saber quem poderia atender. O pai ou a mãe. E tentava sempre acertar na hora. Para que fosse ela. E gentilmente dizer. “Sou eu”. Mais do que um amigo. Tenho saudades de quando, para se chegar à pessoa que queria, tinha de conhecer os restantes que a envolvem. Quando um amigo me ligava e o meu pai me dizia: “É o Sérgio”. Poderia ser outro. Poderiam ser tantos. Mas primeiro conheciam o meu pai. Poderia ser a minha mãe. Ou a minha irmã. E perguntavam: “Quem é o teu amigo?”. Claro, pergunta óbvia se não o conhecessem. Quando a face se ligava ao nome tudo ficava mais simples e claro.
Tenho saudades quando me perdia da minha primeira namorada. Combinávamos aquele banco no parque. O mais escondido de todos. A folhagem retinha o nosso amor num casulo que nos fazia nascer nos braços de ambos. A hora certa. Se era Verão, sempre depois do quente mais quente que as horas trazem. E ali ficávamos a receber a brisa do final de tarde. Isto quando as horas batiam certo. Quando o banco nos recebia. Eram muitas as vezes em que me perdia. E ela, perdida, regressava a casa. Ligava e dizia que era uma amiga. Tenho saudades quando saía e demorava a regressar a casa. Dizia uma hora. E fugia ao tempo. Os meus pais, preocupados, ficavam à espera. Quando chegava dormiam. Mas tinham de esperar. Não havia forma de ligar. De confirmar. Era livre. Ainda que irresponsável. Mas livre na minha irresponsabilidade muito bem gerida. Quando conhecia alguém, pedia o telefone de casa. Algumas vezes a morada. E quase sempre tentava saber por onde parava. Hoje tudo é diferente. Há um milhão de formas de se chegar a uma pessoa. De a ver. Seja num espelho da Internet. Numa conversa virtual. No telefone que móvel nos acompanha na nossa mobilidade. Somos reféns da nossa existência. Porque o que somos se alastrou além da nossa liberdade. Sempre disponíveis. Sempre visíveis. Tenho saudades dos momentos em que para dizer que amava tinha de ligar. E por vezes dizer: “Olá, é um amigo”.
by: Adão

sábado, setembro 03, 2005

Estava demasiado cheia de tudo...

Abro uma fenda no espaço e corro atrás do tempo. Sinto que carrego um corpo que inevitavelmente quer sorrir.
A minha face, a minha mente ...tudo o que me lembro, senti....tudo o que sei... vai comigo!... Mas eu não sou a mesma!
Dispo-me de tudo aquilo que deixa o coração apertado e faz com que a lágrima teime em cair. O silêncio já não me castiga. Deixo-me levar, enquanto sinto pertencer, ao que me toca o corpo.
Largo os gestos grosseiros de outros tempos.
Entrego-me à terra, que com prazer me acaricia...
Sou assim...agora e por tempo indefinido...

quinta-feira, setembro 01, 2005


O teu sorriso contido. Trocado a medo.
É rebento de malmequer. Perde-se. Por quem te quer.
Velo os teus lábios. Por essa palavra que se cala. São fios de pensamento. Sem saber onde te leva.
Do caule ao teu ser o frio é arrepio. Pedes-me uma palavra
Olhas-me. O rio que passa nos teus olhos é o meu reflexo. Olhas-me.
Dizes-me do profundo que é o teu ser. És. E será que me sentes?
by: Adão